Descoberta mostra a influência do Barão de Nova Friburgo
Arqueólogos fazem descoberta incrível e histórica no Palácio do Catete, no
Um antigo jardim no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, esconde uma marcante camada de história. Foi em um buraco cavado para a passagem de tubulações de esgoto que a arqueólogaBeth Modesti Simões encontrou ladrilhos hidráulicos com mais de 150 anos. Embora não exista registro desses ladrilhos em nenhuma planta do palácio, acredita-se que eles são da mesma qualidade dos pisos importados da Inglaterra na época de sua construção, que se deu entre 1858 e 1867.
Esse achado remonta ao período de Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo, uma das figuras mais influentes do Brasil Imperial e responsável pela construção do edifício, então conhecido como Palácio Nova Friburgo.
O processo de escavação e catalogação, conduzido por uma equipe de arqueologia, identificou que os ladrilhos possuíam um padrão decorativo característico da época e estilo empregados em construções nobres do século XIX. Esses ladrilhos possivelmente ornamentaram os ambientes do palácio que, além de ser uma residência suntuosa, também recebia a elite do Império e desempenhava um papel importante no cenário político e social da época.
Mapeamento
Isabel Portella, especialista em ladrilhos hidráulicos e servidora do Museu da República, mapeou todas as 47 padronagens de ladrilhos existentes no local. Ela garante, segundo a fonte, que os ladrilhos encontrados na área gramada têm a mesma qualidade que os pisos usados no hall de entrada e em outras áreas do museu.
Para a chefe do núcleo de arquitetura e diretora substituta do Museu da República Ana Cecilia Lima Santana a presença de descobertas arqueológicas nos subterrâneos do museu não é tão surpreendente, mas algo dessa dimensão deixou todos os especialistas da casa sem respostas.
Quando achei esse ladrilho, reparei a qualidade. Ele tem as iniciais do fabricante, então, não temos dúvidas que é Minton. Esse fabricante era renomadíssimo, ele fez um restauro na Catedral de Westminster [no Reino Unido]", disse Beth.
A História do Barão de Nova Friburgo
Mas como um casarão tão suntuoso a ponto de ser um palácio presidencial foi construído para ser a residência de uma família nobre no século 19? Entre ladrilhos hidráulicos ingleses, vitrais alemães e colunas de mármore, o luxo e o requinte da residência exemplificam o poder econômico da elite cafeicultora e escravista, da qual o Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, era um destacado representante.
Um estudo publicado na Revista Maracanan, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pelo historiador Rodrigo Marins Marretto, contabiliza que, em apenas quatro anos, de 1827 a 1830, o Barão de Nova Friburgo foi responsável pela vinda forçada de mais de 3,3 mil pessoas escravizadas da África para o Brasil, em oito viagens.
Os principais portos em que o barão comprou pessoas escravizadas foram Quilimane, Cabinda, Luanda e Inhambane, e os desembarques eram sempre realizados no Rio de Janeiro.
Ao todo, 306 pessoas morreram no percurso pelo Oceano Atlântico, e as demais foram vendidas ou compuseram o enorme contingente de escravizados, o que o transformou em um dos maiores cafeicultores do interior do Rio, garantindo um título de nobreza a um homem que poucos anos antes trabalhava no comércio.
“Era o tráfico de escravos que permitia um primeiro ciclo de enriquecimento que, através dos capitais acumulados, transbordava para as áreas agrícolas da Província fluminense e contribuía para a montagem de um sistema agrário complexo e variado”, explicou artigo publicado pelo historiador.
Sob sua propriedade, o barão chegou a acumular 2.180 pessoas escravizadas e 15 fazendas. Sua riqueza e influência fizeram com que buscasse um lugar de destaque para morar na capital, mais perto da sede do Império Brasileiro, cuja sustentação política era inseparável da elite escravista.
Foi, então, que iniciou a construção do Palácio do Catete, no qual o barão e a baronesa residiram por pouco tempo. A imponente construção neoclássica de três andares ficou pronta em 1867, e o barão morreu em 1869. Sua esposa, a baronesa, em 1870. O palácio permaneceu na família até 1889, quando foi vendido por um dos filhos do casal, o conde de São Clemente.
Nos sete anos seguintes, ele mudou de mãos até chegar ao Banco da República do Brasil, em 1895, e ser requisitado para ser sede da Presidência da República no ano seguinte.
O Palácio do Catete foi a sede do Poder Executivo até 1960, quando a capital federal foi transferida para Brasília. Hoje, ele está aberto à visitação, como Museu da República, e seu jardim de 12 mil metros quadrados é uma área de lazer que funciona como uma praça para os moradores do Catete, bairro caracterizado por ruas estreitas e prédios antigos.